TEXTOS OPORTUNOS





ABANDONADAS – a tela favorita de José Relvas

Joaquim Moedas Duarte



Quem visitar a Casa dos Patudos - Museu de Alpiarça - que foi residência do grande republicano e homem de cultura José Relvas[1], por este doada à Câmara Municipal daquela vila - verá numa das paredes do escritório um quadro a óleo sobre tela intitulado Abandonadas (1670 X 1775 mm), da autoria de Constantino Fernandes. Era o quadro favorito de José Relvas que o queria perto de si, no gabinete de trabalho que ainda hoje se conserva com os objectos de uso e o calendário de cartões em caixa de mogno e enfeites de prata, imobilizado no dia da sua morte: Outubro, Quinta-feira, 31 (1929).
José Relvas foi um grande proprietário agrícola que soube gerir com eficácia e proveito um bom núcleo de terras de vinha e olival. Desgostoso com a inépcia governativa monárquica, assumiu o risco da oposição política indo ao ponto de se envolver na preparação e realização da revolução republicana. Foi ele quem proclamou a República na varanda do Município de Lisboa, na manhã de 5 de Outubro de 1910.
Formado no Curso Superior de Letras de Lisboa, não descurou a formação prática em economia e finanças, tão necessária à gestão dos bens e, mais tarde, às responsabilidades de Ministro das Finanças do primeiro Governo republicano, tendo sido ele o criador da nova moeda, o escudo que substituiu o real. Porém, outra faceta da personalidade fascinante deste homem era a sua cultura artística. Exímio executante musical – tocava violino – viajou pela Europa e tornou-se um apreciador de arte de elevado critério, o que o levou a adquirir para a sua residência solarenga de Alpiarça um notabilíssimo acervo de peças de arte portuguesa e estrangeira que engloba pintura, escultura, tapeçaria, louças, mobiliário e azulejaria e que constitui o miolo do Museu que podemos visitar. José Relvas foi um homem preocupado com o bem público e com a justiça social, como bem mostra o seu testamento. Tendo visto morrer os seus três filhos, legou todos os bens – Casa e rendimentos de proprietário agrícola – à Câmara Municipal de Alpiarça, para que fosse construído um Asilo para os alpiarcenses pobres, o que veio a ser feito: ele lá está, do outro lado da estrada, frente à Casa-Museu.
O breve retrato do grande republicano era necessário para melhor entendermos o significado do quadro Abandonadas,[2] de Constantino Fernandes. A temática social que nele se adivinha era bem cara a José Relvas. Em primeiro plano, duas mulheres e um rapazito deslocam-se da direita para a esquerda, vindos de algum sítio que os repele. Não sabemos que sítio seja. Podemos, também, supor que se afastam de alguém de quem receberam ordem de expulsão. O que nos impressiona é o rosto destas personagens em que se expressa uma dignidade ferida, uma resignação mansa e fatalista, visível sobretudo na mulher do xaile amarelo e na criança. Nesta, a expressividade é avassaladora: não lhe vemos os olhos nem a boca, o rosto está numa posição abaixo do nosso olhar, mas a inclinação da cabeça e a mãozita que aconchega a gola do casaco revelam um enorme desamparo e uma infinita tristeza. A mulher do xaile amarelo traz uma criança ao colo, presença sugerida pelos folhos brancos e pelo volume dos braços que fazem berço. Mas ela não se fixa na criança. No seu rosto sério, os olhos perdem-se numa lonjura que vai muito para além do chão para onde parecem olhar. Na sua expressão está contida uma história de vida, um passado que não se adivinha risonho, mágoas acumuladas. É como se olhasse para um abismo que, de tão conhecido, já não a assusta. O mesmo abismo, aberto no chão, onde se parece fixar o olhar da criança.
A personagem do meio tem uma atitude diferente. Olha para trás, num derradeiro olhar em que se despede de alguém ou de um lugar. Não há rancor nem ameaça nos seus olhos, antes uma doçura e uma serenidade de quem aceita o inevitável. Mas a boca cerrada denota decisão, vontade de resistir à ameaça. As mãos estão ocultas debaixo da manta que lhe pende dos ombros. Talvez a mão esquerda se encoste ao ombro do rapazinho que, ao senti-la, aproxima a sua própria mão, como se respondesse num gesto silencioso.
Que mundo é o destas mulheres? Pelas roupas, depreendemos que será tempo de frio, o que sublinha o desconforto da cena, a juntar à terra do chão e às poças de água. A paisagem que as envolve é de uma zona fabril, com chaminés altas que expelem fumo e casario de área habitacional pobre. As colinas do fundo parecem-nos familiares, lembram a Serra de Monsanto, o que nos permite conjecturar que a cena se passa na zona de Alcântara onde, no início do século XX, se concentravam algumas fábricas.
O quadro foi pintado em 1909 por Constantino Fernandes. O título – Abandonadas – parece confirmar a nossa leitura: o quadro representa mulheres do povo anónimo num momento de desamparo. Temos a tentação de imaginar histórias: terão ido pedir trabalho e receberam uma má resposta? Foram expulsas de casa por um homem alcoolizado? Foram despejadas do casebre por um senhorio implacável? Mas logo percebemos que qualquer leitura concreta só empobrece o quadro.
Porque o que lhe dá força é o seu enorme poder sugestivo, sem referências explícitas. O título genérico e toda a composição concentram uma ideia essencial: o sofrimento de duas mulheres abandonadas, num tempo em que a condição feminina das mulheres do povo era muitas vezes intolerável.
Constantino Fernandes (1878 – 1920) insere-se na grande corrente artística do naturalismo / realismo [3], optando por temas de carácter social, pela representação rigorosa do corpo humano[4] ou pelo retrato. São características do seu estilo o rigor do desenho e a utilização de uma paleta elementar da qual tira todo o partido possível. As figuras surgem à boca da tela em enquadramento que mais tarde, em linguagem cinematográfica, se designou por “plano americano”- figuras humanas a 2/3, com corte por cima do joelho, o que permite uma maior aproximação do olhar de quem observa e sublinha a expressão dramática dos rostos e do movimento das figuras representadas. A tela “Abandonadas” é um exemplo brilhante da qualidade artística de C. Fernandes, reconhecida desde o momento da sua criação, quando o autor, bolseiro (“pensionista do Estado, como então se chamava) em Paris, foi distinguido com uma “primeira medalha” em 1909.





[1] Sobre José Relvas:
José Raimundo Noras – José Relvas (1858-1929), Fotobiografia. Leiria: Edição Imagens & Letras, 2009.
Catálogo da exposição José Relvas, o conspirador contemplativo. Lisboa: Divisão de Edições da Assembleia da República, 2008.
[2] Não é consensual o título do quadro. Nas obras referidas na nota 1 o quadro é designado por “As abandonadas”. José Augusto França, in: A arte em Portugal no século XIX (Lisboa, Livraria Bertrand, 1967) designa-o sem o artigo definido. Carlos Augusto Lyster Franco, que foi contemporâneo de Constantino Fernandes e com ele privou, também designa o quadro como “Abandonadas” no opúsculo “O pintor Constantino Fernandes”, separata do «Correio do Sul», Faro, 1950. (reproduzido in: Ana Rita Carvalho Afonso - A obra gráfica de Carlos Augusto Lyster Franco, Dissertação de Mestrado, vol.II.[Em linha] Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa, 2008. [Última cons. Em 29 de Abril de 2014]. Disponível em: http://hdl.handle.net/10451/7783)

[3] Do ponto de vista da pintura, ao contrário do que se passa na Literatura, naturalismo e realismo são dois conceitos que facilmente se confundem. Não cabe aqui tentar a destrinça que remete para considerações teóricas ligadas à Estética.
[4] Cf. Alberto Cláudio Rodrigues Faria – A colecção de desenho antigo da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa ( 1830- 1935): tradição, formação e gosto. Dissertação de Mestrado em Museologia e Museografia, vol. III, p. 135 [Em linha] Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, Lisboa, 2008.[Última cons. Em 29 Abril 2014]. Disponível em:


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A Jarra Beethoven, na Casa - Museu dos Patudos, em Alpiarça








Ver artigo:

http://www.artcultura.inhis.ufu.br/PDF20/m_malta_20.pdf




Ver também o texto de João Bonifácio Serra:

Nota (breve) sobre Bordalo, a Jarra e Beethoven
 João B. Serra (Professor da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha.)

Em 1895, acedendo a uma encomenda de José Relvas, proprietário ribatejano com vastas relações na elite da cultura, Rafael Bordalo Pinheiro iniciou a concepção de uma peça de cerâmica dedicada a Beethoven. Os trabalhos de elaboração dessa peça – uma jarra de grandes proporções – foram complexos e demorados. Absorveram a atenção e o empenho de Bordalo e mobilizaram as capacidades dos melhores ceramistas que ainda o acompanhavam no seu atelier da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. No seu “Livro de Empreitadas”, um desses operários, Avelino Soares Belo, deixou um rasto manuscrito dos passos dessa aventura por todos seguida com indisfarçada ansiedade. O próprio Bordalo registou num “Caderno de Notas” transcrito pela primeira directora do Museu que tem o seu nome em Lisboa, Julieta Ferrão, o andamento atribulado da operação. Encarada como uma extravagância bordaliana, uma provocação de génio aos condicionamentos do processo cerâmico, a Jarra Beethoven pode talvez ser tomada como uma tentativa de esconjurar a maldição duma empresa que falhara sucessivamente os projectos industriais que presidiram à sua criação. Certo é que a maldição se abateu cedo sobre a própria jarra. Das peripécias que rodearam a sua abertura na roda de oleiro, secagem e cozedura, até à constatação de que era inadequada para o local a que o cliente. de Bordalo a destinava, tudo se conjugou para trocar as voltas ao destino desta peça singular.

Rejeitada por Relvas, a jarra deambulou, ao longo dos anos 1898 e 1899 entre Caldas e Lisboa (exposição no foyer do Teatro D. Amélia), e entre Lisboa e Rio de Janeiro, sempre em busca de um comprador que lhe fizesse jus. O aplauso da imprensa, ecoando porventura a curiosidade popular, escondeu mal as reservas da crítica. Ramalho Ortigão, por exemplo, sempre pronto a glorificar Bordalo, deixou escapar em família um juízo desfavorável: “bela peça para concurso” mas “obra defeituosa”.
Leiloada no Brasil, no Verão de 1899, depois de mais uma vez ter ficado sem comprador, acabou por, ironicamente, sair a um número que integrava um lote de rifas previamente recusadas. Oferecida, enfim, por Bordalo a um mecenas brasileiro, foi por este entregue em doação ao Presidente da República que a destinou à sala de música do Palácio do Catete, onde temporariamente permaneceu. Celebrada como um prodígio, a jarra Beethoven arrastou a sua incrível dimensão (280 cm de altura) e a sua incontida profusão de elementos decorativos como outros tantos factores dissuasórios de um desejo de compra. Devemos então procurar descortinar os motivos que levaram Bordalo a deitar ombros a tal “excesso”. Ramalho que também se colocou essa interrogação em 1898 achou plausível que “uma tão gigantesca coisa” tivesse sido “feita unicamente no intuito pouco poético e extra-artístico de entupir de admiração os basbaques” .

Justificava-se um gesto de tamanha teatralidade? Sim. Não tanto pela necessidade de afirmação pessoal do autor, então com um curriculum sólido de uma dúzia de anos de renovação da cerâmica portuguesa, mas sobretudo como chamada de atenção para a situação da empresa que via definhar a sua carteira de encomendas. Sousa Viterbo deixou-nos a esse propósito, uma informação clara no Diário de Notícias de 26 de Outubro de 1898: “Mal pensaríamos nós, ao contemplar a admirável Jarra Beethoven, que aquele seria o derradeiro canto do cisne do poeta da cerâmica. Efectivamente, não parece haver a menor dúvida a este respeito. Temos presente uma carta de Bordalo Pinheiro em que ele nos comunica, doloridamente, a resolução de fechar a sua fábrica, o seu home, o seu lar, a sua ambição, a sua felicidade” . Na mescla de sentimentos contraditórios que a jarra inspirou – espanto e admiração perante a ousadia do artista mas recusa geral em trazer a obra para um convívio partilhado – adivinha-se uma alegoria do destino da unidade cerâmica onde fora produzida. Bordalo quis que assim fosse – uma obra extraordinária que ninguém adquirisse – e provavelmente concebeu-a como uma “peça final”. Com intuito semelhante, anos antes, cometera um projecto equiparável: a Talha Manuelina, ou Talha dos Operários, cuja venda estava indexada ao pagamento de salários em falta. A Jarra Beethoven não mais foi vista em Portugal. Raros foram os portugueses que a puderam observar e que do facto deram notícia até hoje. Hoje, certamente a precisar de  restauro, depois das mutilações a que foi sujeita, permanece prisioneira da sua maldição, num discreto recanto do Museu das Belas Artes do Rio de Janeiro. 

Conhecendo os esforços recentemente efectuados lhe devolver a sua própria história – que suponho ainda não coroados de êxito – gostaria de deixar aqui um modesto contributo para lhe emprestar um “novo” destino. Remeto para a história de Ludwig Van Beethoven. Nascido em Bona em 1770, Beethoven contactou desde o berço com a música, para a qual cedo revelou um talento de excepção. Reconhecendo a necessidade de lhe proporcionar o contacto com grandes mestres, o seu protector enviou-o a Viena de Áustria em 1792. Nos três anos seguintes recebeu aulas dos mestres vienenses Haydn, Albrechtsberger e Salieri. Em 1794 compôs a sua primeira obra original, celebrada como um trabalho muito promissor. Em 1798, o príncipe Lobkowitz encomendou-lhe 6 quartetos para cordas. Era uma encomenda prestigiosa mas exigente. Mozart e Haydn tinham elevado o género a grande projecção. Lobkowitz, na altura em que desafiou Beethoven dirigiu encomenda idêntica ao velho mestre Haydn. O jovem músico aplicou-se com determinação durante os dois anos seguintes na composição dos quartetos, cuja edição, em 1801, significaria simplesmente o triunfo. O último quarteto a ser concluído terá sido o 4º, provavelmente de um só jacto, pois nunca foi encontrado o respectivo estudo prévio. A peça foi recebida com enorme entusiasmo, consagrando definitivamente o seu autor.  Diz-se que Beethoven confidenciou na altura: “É uma merda, mas está bem para este público de merda”.

Foi esta a peça musical – para dois violinos, violoncelo e violão – que Rafael Bordalo Pinheiro escolheu para assinalar, 100 anos decorridos sobre a sua criação, a Jarra com que impressionou o mundo jornalístico da sua época. O jovem Beethoven triunfante, vergando o público de Viena que a si próprio se considerava como o mais difícil, serviu de mote a um Bordalo que julgava ter chegado ao fim de um atribulado percurso cerâmico e que pretendeu assinalar esse final com uma obra que para sempre testemunhasse o seu inconformismo de criador.

NOTAS
1. Artigo publicado em Suplemento especial da Gazeta das Caldas, dedicado a Rafael Bordalo Pinheiro, Janeiro de 2007.
2 “A jarra de Bordalo é inteiramente uma bela peça para concurso de cerâmica porque não há dificuldade que nela não se ache resolvida. Como composição decorativa, no ponto de vista absolutamente estético, é obra muito defeituosa, excessiva, complicada, destituída absolutamente das condições fundamentais de uma obra de arte, que são a ponderação, a harmonia e a lógica de conjunto”. (Ramalho Ortigão, Cartas a Emília, introdução., selecção, fixação do texto, comentários e notas por Beatriz Berrini, Lisboa, Lisóptima/Biblioteca Nacional, 1993)
3. Sousa Viterbo, Cem artigos de Jornal. Lisboa, Diário de Notícias, 1912 

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Crónicas do Outeiro: Histórias das ideias republicanas na vila de Alpiarça
Nuno Prates
Conservador da Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça

A história das ideias republicanas na Vila de Alpiarça daria, por si só, uma outra. Assumindo as defesas da causa republicana em todo o Ribatejo, foi palco, nos últimos anos da Monarquia, de vários comícios contra a ditadura franquista.
O sair de uma crise, de uma cíclica miséria que, à época, imperava em Portugal era o objectivo que movia os portugueses e os alpiarcenses. Estes, afectados por uma crise vinícola, com um excesso de produção de vinho, em resultado do grande plantio após o combate da «Filoxera», doença que, no século XIX, arrasou as vinhas ribatejanas.
Devido à grande produção, o vinho tinha preços muito baixos e era pedido, por parte dos agricultores, que fosse comercializado a preços mais elevados, medida que a Monarquia não consegue resolver.
Em toda a região, o trabalho escasseava, os salários eram baixos, havia fome e pobreza e, tanto para os lavradores como para os trabalhadores, a República era sinónimo de melhores dias e a solução de todos os problemas populares.
O grito de desespero lançado à Monarquia, com a finalidade de comercializar o vinho a preços dignos não foi ouvido e, em 1907, o apelo de guerra pela República parte de Alpiarça e depressa chega a várias povoações rurais.
Quando João Franco pretende impor ao país a sua política económica e reaccionária, vários cidadãos de Alpiarça fazem-lhe frente, e assiste-se a uma grande resistência pelos campos da Estremadura.
Em 1907, aquando da jornada republicana pelo Ribatejo, é em Alpiarça, a 13 de Junho, que se dá uma das maiores recepções feitas aos republicanos: João Chagas, Alexandre Braga, António José de Almeida, Bernardino Machado e João Menezes. A recepção foi organizada por Joaquim Romão, médico e pessoa estimada por todos. O entusiasmo é enorme: homens, mulheres e crianças esperam os republicanos, dão-se vivas à República. Da varanda da casa de José Malhou, este e António José de Almeida falaram. Depois deste comício, em Alpiarça, a adesão ao partido republicano rondava quase os 100%, o que se provou nas eleições. No dia 9 de Fevereiro de 1908, o povo de Alpiarça aprova uma moção contra o governo de João Franco e recebe a visita de João Chagas. Na entrada da Quinta dos Patudos, surge uma manifestação a apoiar a sua causa. À passagem de José Relvas, João Chagas e Luíz Morotte, o povo reunido «exige» um comício de improviso.
Perante o discurso de Joaquim Romão, José Malhou, José Relvas, José Montez e João Chagas, o povo aclama e aplaude com entusiasmo. Em Alpiarça, o partido republicano, representado por João Chagas, obteve 580 votos, contra os 12 votos do partido monárquico, alcançando, assim, um dos melhores resultados no distrito, uma vez que, no total, obteve 5070 contra os 32 000 votos obtidos pelo partido monárquico.
Antes de 5 de Outubro de 1910, João Chagas volta a Alpiarça para participar numa conferência que se realizou no antigo teatro, existente na actual Rua Dr. Duarte Governo. O publicista, acompanhado por José Relvas, Ricardo Durão, Dr. Costa, Guedes de Amorim e José Malhou, discursou perante uma plateia entusiasta que muito o aplaudiu.
Depois de tanta luta, uma questão emerge: O que ganhou Alpiarça com o regime republicano? Muito. Foi um dos concelhos da República e viu a anexação da freguesia de Vale de Cavalos, durante este período; velha aspiração do povo de Alpiarça. José Relvas, como parlamentar, defende e assiste a esta anexação, tal como assistiu à sua desanexação e consequente integração no Concelho da Chamusca.
Alpiarça chegou mesmo a ser considerado o concelho rural mais republicano do país. É, decerto, uma Vila com história dentro da História em que o povo escreveu, escreve e continuará a escrever as suas mais belas páginas.
O Concelho de Alpiarça, concelho da república, foi criado pela Lei n.º 129, de 2 de Abril de 1914, cuja data se comemora com Feriado Municipal.
Da parte administrativa de Alpiarça pouco se sabe. Contudo, no século XIV, há documentação que situa Alpiarça no termo de Santarém. Relativamente à criação da freguesia, não encontrámos documentação, apesar de, em 1747, o padre Luiz Cardoso se referir a Alpiarça como freguesia.
Inquestionável é sim que, em 1826, Alpiarça era uma das freguesias do Concelho e Comarca de Santarém. Em 1835, foi desanexada por se situar na margem esquerda do Tejo, sendo incluída no Julgado e Comarca da Chamusca, onde permanece até 1875, ou seja, na província da Estremadura.
Em 1836, passa para o Concelho de Almeirim e, à época, era a sua maior freguesia, em conjunto com outras quatro: Almeirim, Muge, Monção de Benfica e Raposa.
Em 17 de Fevereiro de 1906, ainda freguesia de Almeirim, Alpiarça é elevada à categoria de Vila. Recorde-se o Diploma da Portaria Real a este propósito:
«Vistas as informações de Governador Civil do Distrito de Santarém acerca do que me representou a Junta da Paróquia da Freguesia de Alpiarça, do Concelho de Almeirim, e querendo dar a esta, por tal motivo e outras circunstâncias atendíveis, um testemunho de consideração: hei por bem fazer à mesma freguesia a mercê de a levar à categoria de vila de Alpiarça e me apraz que nesta qualidade, goze de todos as prerrogativas, liberdades e franquezas que directamente lhe pertencem; expedindo-se a competente carta em dois exemplares, um para título da referida junta e outro para ser depositado no Real Arquivo da Torre do Tombo».
Em 2 de Abril de 1914, pela Lei n.º 129, Alpiarça passa à categoria de Concelho, deixando assim de pertencer ao Concelho de Almeirim.
Cabe-nos, agora, a nós, como alpiarcenses, também dignificar a nossa terra e continuar a escrever a sua História.

28 de Outubro de 2016

In:

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CRONOLOGIA | JOSÉ RELVAS

1858 – Nascimento de José Relvas.
1871 – Na Golegã, início da construção da casa-estúdio de Carlos Relvas, pai de J. 
            Relvas.
1880 – Depois de frequentar Direito em Coimbra, conclui o Curso Superior de Letras
na Univ. de Lisboa.
1882 – Casa com Eugénia Antónia.
1883 – Congresso da comissão organizadora do Partido Republicano.
            Nascimento da filha, Maria Luísa, que viria a falecer de febre tifóide em 1896.
1884 – Nascimento do filho Carlos, que viria a suicidar-se em 1919.
1887 – Nascimento do filho João, que faleceu de febre tifóide em 1899.
1888 – Fixa residência na Quinta dos Patudos, em Alpiarça, que herdara da mãe.
1889 – Início do reinado de D. Carlos.
1890 – Ultimato inglês. A Portuguesa, de Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça.
1891 – Revolta republicana no Porto. Bancarrota, na sequência da crise económica       
            mundial.
1900 e 1902 – Viaja pela Europa.
1903 – Rafael Bordalo Pinheiro oferece a J. Relvas um exemplar mais pequeno da 
            monumental.
Jarra Beethoven. Viticultores do Ribatejo manifestam-se em Lisboa.
1905 / 1906 – Ampliação da casa dos Patudos, projecto de Raul Lino. Actividade intensa 
            nas associações de viticultores. A questão dos “adiantamentos” à Coroa.
1907 – Adere ao Partido Republicano. Dirigente das associações de viticultores, participa 
            num comício em Torres Vedras. Início da ditadura de João Franco.
1908 – Regicídio (D. Carlos e o herdeiro, Luís Filipe), por Manuel Buiça e Alfredo 
            Costa, condenado por José Relvas por ameaçar a causa republicana.
1909 – Eleito membro do novo Directório do Partido Republicano, mandatado para 
            organizar uma sublevação revolucionária.
1910 – Julho: viagem diplomática, com Magalhães Lima, a Paris e Londres. 5 de 
            Outubro: Implantação da República. J. Relvas, Ministro das Finanças do  
            Governo  Provisório.
1911 – Nova moeda: Escudo que substitui o Real. J. Relvas embaixador em Madrid.
1914 – Criação do concelho de Alpiarça, desanexado de Almeirim.
1919 – J. Relvas preside a um Governo da República (27 Jan a 30 Mar). Retira-se para a 
            Casa dos Patudos. Suicídio do filho Carlos.
1928 – Testamento dos bens à Câmara de Alpiarça, para que se crie um Lar de apoio a 
             idosos. Usufruto dos bens a sua mulher, enquanto ela viver (1951).
1929 – Morre a 31 de Outubro, em Alpiarça, onde repousa no jazigo da família.
1960 – Abertura ao público da Quinta dos Patudos como espaço museológico e memória 
           de J. Relvas.

(Organizado por JMD)


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RUPTURA E COSMOPOLITISMO NA ARTE PORTUGUESA 
DO INÍCIO DO SÉCULO XX

Joaquim Moedas Duarte

Nos alvores do século XX português um pequeno mas aguerrido grupo de artistas instala a inquietação e a desordem no sossegado ambiente cultural de Lisboa e Porto e faz da arte um campo de confronto e ruptura. Portugal era um país rural com cerca de 75%  de analfabetos, precários meios de comunicação e incipientes sectores secundário e terciário. O rei D. Carlos pintava marinhas que uma corte ignorante muito admirava, o teatro S. Carlos encenava óperas para um sonolento público de burgueses, os poucos jornais e revistas publicavam folhetins convencionais e poemas de amor às pálidas Lísias e Amarildas. Lisboa cabia toda no Largo do Loreto que Eça sarcasticamente descreve na última página do Crime do Padre Amaro, “esta paz, esta prosperidade, este contentamento… Meus senhores, não admira realmente que sejamos a inveja da Europa!”

Este mundinho pacato é inundado pelo caudaloso rio de uns tantos artistas rebeldes: Santa-Rita, Amadeo de Souza-Cardoso, Cristiano Cruz, Fernando Pessoa, Eduardo Viana, Abel Manta, Benanrdo Marques, Mário Eloy, Almada Negreiros… São uma minoria, decerto, como já o haviam sido os temerários revolucionários da Rotunda que derrubaram a Monarquia. Suficientes, no entanto, para abalarem os alicerces da velha sociedade portuguesa, beata, tradicionalista e estranha aos grandes ventos que varriam a Europa.

Esta elite de artistas revolucionários era a mais recente vaga de estrangeirados que, desde o séc. XVIII, vinha corroendo ciclicamente as grossas paredes do nosso endémico atraso cultural. Vindos de Paris – com a excepção de F. Pessoa, de raiz anglófila -  traziam as novidades das novas tendências artísticas, sobretudo na pintura, mas também na literatura, provocando escândalo com as suas exposições livres e levando ao desespero os críticos de arte, viciados no naturalismo bucólico oitocentista. Este espírito cosmopolita estava em frontal rota de colisão com o tacanho provincianismo das elites tradicionais portuguesas.

                                               (Foto RTP)


O grande expoente deste espírito insubordinado e rebelde é Almada Negreiros. Homem de múltiplas expressões, marca as artes plásticas e a literatura com a sua iconoclastia destemida e provocadora. “Morra o Dantas, morra, pim!” ainda hoje ecoa como a mais violenta diatribe contra o academismo e o imobilismo na arte e no modo de estar na vida. Almada, que marcou a primeira geração modernista com a proclamação do espírito futurista,  cuja longevidade o prolonga para a segunda geração modernista, nos anos 20 e 30, e o leva a aceitar colaborar em projectos do Estado Novo sob a égide de António Ferro, marcará indelevelmente o panorama cultural português na primeira metade do século XX.



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O SILÊNCIO E O LUME
Raul Brandão

Querida: estamos sozinhos à mesa nesta noite infinita em que a chuva cai lá fora com um ruido monótono de choro. Estamos sós nesta noite de saudade e nunca foi maior a nossa companhia, porque cada vez me sinto mais perto dos mortos. Rodeiam-nos, chegam-se para mim e sentam-se ao nosso lume. São legião... Mais perto, que eu faço uma labareda que nos aqueça a todos. A velha mesa da consoada foi-se despovoando com o tempo, mas hoje estão aqui sentadas todas as figuras que conheço desde que me conheço... Tu, toda branca, e que mesmo através do túmulo me transmites sonho; tu, mais longe, mais apagada e sumida; e tu, que vens de volta, e encostas os teus cabelos brancos aos meus cabelos brancos, para me dizeres baixinho: — Menino!— Pois ainda me chamas menino?! — Outro acolá sorri e outro tenta falar... Dois vivos e tantos mortos sentados à roda desta mesa que veio de meu pai, foi de meu avô e pertenceu já a outras gerações desconhecidas, mas que estão aqui também comigo, escutando e sorrindo, enquanto as pinhas se transformam em flores maravilhosas e as vides que plantei se reduzem a cinza!... Nunca estive tão acompanhado como hoje nesta ceia religiosa de fantasmas, numa comunhão de saudade e de lágrimas, e sentindo que cada Natal volvido mais me aproxima dos mortos. Aumenta o silêncio húmido que nos isola do mundo... Dá-me as tuas mãos, querida, e deixa arder o lume, enquanto eu falo baixinho diante da legião que nos escuta, acompanhado pelo ruído de lágrimas que se ouve lá fora.

Um dia destes temos que nos separar, e é natural que seja eu, que sou mais velho, o primeiro a partir... Antes, porém, quero dizer-te que te devo o melhor da vida. Foste tu que me desvendaste o amor que eu desconhecia. A bondade e a ternura, que eu desconhecia. Não exerci talvez nenhuma influência na tua alma — tu apaziguaste-me. O amor era em mim um simples impulso: criaste-o, e pouco a pouco essa força nas tuas mãos se transformou em sentimento religioso.

Olha para os meus cabelos todos brancos... Julgava que o amor ia diminuindo com o tempo — e o meu amor não cessa de aumentar até à morte e para alem da morte. «Na ocasião em que escrevo estas linhas — diz Alfieri nas Memórias — na idade em que já desapareceram de todo as ilusões, sinto que a amo cada vez mais, à medida que o tempo destrói o brilho da sua passageira beleza. Ela tornou melhor, elevou e pacificou o meu coração — e eu ouso dizer a mesma coisa do seu, que sustento e fortifico.»

É certo: cada ano que passa é um laço que nos prende e quanto melhor conheço a tua alma, mais me purifico ao seu contacto. Não só fazes parte do meu ser, mas da minha consciência. Chego às vezes a supor que tu és a minha consciência. Por isso esta separação vai ser dolorosa, ainda que eu creia que nos tornaremos a encontrar noutro mundo melhor. Não decerto para vivermos as horas que passamos juntos à beira do lume, penetrados um do outro e unidos pelo silêncio, mas numa vida superior que antevejo e numa paz mais profunda. Ainda assim tenho pena. Tenho pena das horas monótonas que correm — do tempo que passa — da brasa que se extingue...

Foste o fio que ligou a minha vida desordenada. Há em mim um ser desconhecido que me leva, se não estou de sobreaviso, a acções que detesto. Uma palavra tua me detém. Tenho passado o tempo a comentar-me e poucas almas me interessam como a minha. O que eu amo sobretudo é o diálogo com esse ser esfarrapado. Dêem-me um buraco e papéis e condenem-me à solidão perpétua. É-me indiferente... Isto é, um erro — e tu fizeste-mo sentir. Sem mo dizeres — compreendi que a nossa vida é, principalmente, a vida dos outros... Melhor: compreendi que a ternura era o melhor da vida. O resto não vale nada. Não é por a esmola da velha do Evangelho ser dada com sacrifício que é mais aceita no céu que o oiro do rico — é por ser dada com ternura. O importante é a comunicação de alma para alma. A mão que aperta a nossa mão, o olhar húmido que procura o nosso olhar, o sorriso que nos acolhe, desvendam-nos o mundo. Às vezes é um nada que nos faz reflectir, é um momento, é uma figura que nos entra pela porta dentro e de quem nos sentimos logo irmãos...
Ainda não há muito que passei uma tarde no lagar, com os homens que assentavam os dornões, e achei um grande encanto àquela lide rude. Cheirava a mosto, e o cheiro pareceu-me mais penetrante que das outras vezes. É a quadra do ano em que caem as primeiras chuvas. Sente-se que vem aí o desabar imenso, nas noites que não têem fim —e aquela voz séria que nos faz reflectir. Há já um pique de frio, que sabe bem, e os ratos e as doninhas começam a levar para os buracos as primeiras folhas amarelecidas que caem das árvores. Tudo adivinha o Inverno. A porta da adega comunica com a cozinha térrea da nossa pequena lavoura. Debruçada sobre o lar, a mulher deitava um feixe de sarmentos da poda sobre as brasas, e a fogueira lambia as paredes negras que reluzem, iluminava os potes de ferro e o berço do filho ao lado do lume, a quem ela ia falando em-quanto fazia o caldo... Este pequeno quadro de interior humilde — o homem que trabalha comigo na mesma vinha, o moço que o ajuda, a mulher e o berço, fizeram cismar... Aproximo-me cada vez mais — outro Inverno, ou a ideia da morte? — da vida de todos os dias. Esta época do ano é a que melhor se harmoniza com a minha alma um pouco cansada e triste — já resignada diante do fim. É agora que eu acho mais sabor à vida — quando a sinto fugir-me. Cheira a folhas apodrecidas. As sombras mais frias, à espera de outras sombras geladas e eternas, trespassam-me de humidade. Anuncia-se o grande Inverno no pio das aves, na cor das folhas que se arrepiam com a lufada do vento e caem uma a uma com um ruído tão leve como os passos da Morte...
O sentimento da vida humilde inspiraste-mo tu; este e outros de apaziguamento e verdade. Ligaste-me mais aos vivos e aos mortos. Aos que estão sentados ao nosso lado nesta noite sagrada e à legião infinita que tem sofrido no mundo, cumprindo a vida, aos desgraçados e aos humildes, aos pobres de pedir que caminham como dantes pela estrada. A chuva cai fora, com o ruído manso de quem se resigna e aceita a dor... Cheguemo-nos mais para o lar, que eu faço arder uma fogueira que nos aqueça a todos — toros de carvalho duros como ferro que dão uma luz mortiça e um calor persistente; o pinheiro que arde, estala, flameja, numa grande labareda fugaz; as vides que plantei e já me aquecem há dois invernos e as pinhas que gosto de atirar uma a uma ao lume e que se transformam em maravilhosas flores de ouro, cujas pétalas só duram um instante... Cheguem-se todos os que no mundo me deram um bocadinho de ternura!
Tu, primeiro, de quem herdei a sensibilidade e esta paixão pelas árvores e pela água, e de quem sinto as mãos pousadas sobre a cabeça, trespassando-me de ternura; tu, tão velhinha, que me quiseste como a um filho, e vós todas de quem confundo as cabeças brancas. Sinto na mão um dedo nodoso que já não existe e a que a minha mão ainda se apega. Sinto as mãos que toquei durante a vida. Muitas já desapareceram, mas estão aqui entre as minhas — as mãos de meu pai, as mãos de minha mãe, as mãos pequeninas das crianças. Não a mão material — mas as mãos espirituais. As mãos quando a gente as aperta e as tem entre as suas dão-nos o ser inteiro pelo contacto. Destruídas pela morte fica a ternura que nos transmitiram.
Um momento, um só momento, um momento e lágrimas, um único momento para lhes fazer sentir também a minha ternura, redobrada pelos anos, aumentada pela saudade, amplificada pelo conhecimento da vida e da dor!...


Raul Brandão, in “Memórias (Dezembro 1924)”



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A PROPÓSITO DAS MEMÓRIAS DE VITORINO NEMÉSIO
(Na Sessão 8, em 6 de Dezembro de 2017)

Margarida Vitória Borges de Sousa Jácome Correia [N. Ponta Delgada, 31.3.1919 ? m. Lisboa, 21.7.1996]
Era filha de Aires Jácome Correia, marquês de Jácome Correia, e de Dona Joana Chaves Cymbron Borges de Sousa. Senhora de grande beleza, de enorme vitalidade, e de uma considerável fortuna familiar, relacionou-se com personalidades importantes do meio cultural português, designadamente os escritores Armando Côrtes-Rodrigues, com quem foi casada, Domingos Monteiro, Hernâni Cidade, Natália Correia e Vitorino Nemésio, tendo desempenhado ao mesmo tempo um papel de relevo na sociedade elegante portuguesa da sua época. Como empresária, foi fundadora de uma empresa de agro-pecuária pioneira na ilha de S. Miguel, a ?Viçor?, que se dedicava ao arroteio de terras, à criação de vitelos e à produção de rações e de forragens para gado, e que acabaria por falir. A sua vida afectiva, de uma grande riqueza humana, foi recheada de acidentes por vezes dramáticos, por vezes pitorescos, frequentemente escandalosos para os padrões portugueses e sobretudo insulares da época, mas sempre fulgurantes: casou ainda muito jovem, contra a vontade paterna, com Albano de Oliveira Azevedo, filho de banqueiro e gerente de uma loja de ferragens em Ponta Delgada, ainda seu parente pelo lado materno, de quem se divorciou ao fim de dez anos ; após o divórcio, a família forçou o seu internamento na clínica psiquiátrica de Prangins, perto de Génève, onde Margarida Vitória conheceu um galã egípcio, Aly Abdel Fatha El Lozy, de Damieth, com quem viria a casar e de quem teve dois filhos, acabando este casamento igualmente em divórcio ; mais tarde, casou-se com Armando Côrtes-Rodrigues, poeta do Orpheu e como ela natural de S. Miguel, de quem também se divorciaria. Durante o período em que viveu no Cairo, Margarida Vitória relacionou-se com o pintor libanês Edmond Soussa, então retratista oficial das princesas do Egipto, com o qual esteve para casar, mais tarde, em Paris, e que a retratou em trajos regionais micaelenses, tocando viola da terra. Foi através de Côrtes-Rodrigues, logo após o casamento com ele, que Margarida Vitória conheceu Vitorino Nemésio, que por ela se apaixonou, vivendo os dois uma relação amorosa de enorme intensidade que durou até à morte de Nemésio em 20 de Fevereiro de 1978, e que este foi registando nos poemas que viria a reunir no livro Caderno de Caligraphia, escritos entre Março de 1973 e Maio de 1977, onde Margarida Vitória é a sua Marga, mas também a Macaca de Fogo, a Poldra, a Cadela, a Marquesi­nha, ou, como natural da ilha de S. Miguel, a Corisca ou a Samiguela; no auge desta extraordinária história de amor, Nemésio chegou a criar, materializando-as em cartões de visita impressos, uma «Sociedade Ludo-Imaginária MARGANÉSIO», e uma outra, «MARGA, ilimitada», dedicada a ?pura ficção? e a ?poesia e novela?. Encontram-se ecos desta relação na obra em que Margarida Vitória registou as suas memórias de vida ? o polémico Amores da cadela pura: confissões, cujo primeiro volume foi escrito com o apoio de Vitorino Nemésio ?, sobretudo no segundo volume, concluído pouco antes da morte da autora e que ainda se mantém inédito. Neste último livro encontram-se dados importantes sobre as relações afectivas de Margarida Vitória num período de decadência física e económica, tendo por fundo o conturbado ambiente político que se viveu em Portugal na sequência do 25 de Abril de 1974, sobretudo na ilha de S. Miguel com o movimento independentista a que de certo modo ? e romanticamente, tal como Nemésio ou Natália ? ela esteve ligada. Faleceu em 1996, arruinada mas sempre bela e sedutora. Luiz Fagundes Duarte (2007)

Obra (1976), Amores da cadela pura: confissões. Lisboa, Liv. Bertrand.
http://www.culturacores.azores.gov.pt/ea/pesquisa/Default.aspx?id=2126




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Museu Municipal de Torres Vedras

Joaquim Moedas Duarte

     Na terceira década do século XX, Torres Vedras entrou na era da preservação material da memória com a criação do seu museu municipal. Essa passagem deveu-se a alguém que marcou a vida cultural torriense: Rafael Salinas Calado. Concretizando uma antiga aspiração das elites torrienses, foi ele o obreiro do Museu Municipal de Torres Vedras, cujo projecto de regulamento foi aprovado pelo executivo camarário em 21 de Junho de 1929 [1]. O museu veio a abrir as suas portas em 1930, na sala da Irmandade dos Clérigos Pobres, anexa à Igreja de S. Pedro. Para a recolha de peças, o fundador recorreu às pessoas influentes da vila, caso do pároco – Padre Pio Sobreiro –, de José da Cunha Santos Bernardes, descendente dos Morgados da Maceira, dos prestigiados médicos Dr. Afonso Vilela e José de Bastos, bem como de Álvaro e Mário Galrão. O executivo camarário associou-se e providenciou a cedência de peças, entre as quais se destacava o precioso foral de D. Manuel. Ficavam assim, expostos ao público, além daquele, variados espécimes de grande valor, constituindo od primeiros passos da constituição do acervo do museu. Pela observação do espólio descrito, podemos inferir que a concepção museológica subjacente a esta primeira fase do museu municipal era a de mostrar ao público visitante alguns objectos de arte, ou peças com significado histórico local, consideradas de grande qualidade memorial ou artística, uma orientação ainda eivada do espírito do século XIX. O museu era um templo de Arte e de História, um espaço consagrado à perenidade de testemunhos materiais carregados de grande valor simbólico, expostos e justapostos como objectos em si e que, embora identificados, careciam de um enquadramento histórico bem explícito.
Sublinhe-se que, no texto memorial de Salinas Calado, que nos guia nesta visita ao passado museológico torriense, há um pormenor significativo: é a referência à organização de um Grupo dos Amigos do Museu, cujas quotas mensais, aliadas a um subsídio camarário, “permitiram bastantes aquisições”, o que, “com as ofertas de particulares foi aumentando o recheio do pequeno museu, precursor do Grande Museu que Torres um dia pode realizar”[2]. Esta interacção entre a população e o museu, em Torres Vedrasm nos anos 30 do século passado, pode ser encarada como expressão pioneira do que, muitos anos depois – em 2004 – a Lei-quadro dos Museus Portugueses veio a reconhecer como um dos “Princípios da política museológica”, insertos no art.º 2º: a participação dos cidadãos na “salvaguarda, enriquecimento e divulgação” dos museus [3].
Entretanto, em 1944, a exiguidade do espaço inicial impôs que o museu municipal fosse transferido para uma sala do antigo Hospital da Misericórdia, na Rua Serpa Pinto. O aumento exponencial do seu espólio implicou a progressiva ampliação do museu que, em 1970, já ocupava oito salasm distribuídas pelos dois pisos, onde os espaços se organizavam de acordo com a tipologia das peças. Já director – foi-o entre 1969 e a sua morte, em 1992 – Leonel Trindade reorganizou o museu, dentro dos parâmetros comuns à época, embora não praticasse os procedimentos museológicos hoje considerados imprescindíveis a uma correcta gestão[4], caso da inventariação sistemática de peças ou da realização de iniciativas de promoção ou divulgação do museu. Reconheça-se, no entanto, que a sua acção foi de elevado mérito científico no que respeita à investigação arqueológica, actividade em que granjeou prestígio nacional e internacional. Homenageado em vida, em 1997, o seu nome foi proposto para designar o museu municipal, o que veio a suceder por decisão camarária.
Entretanto, em 1989, por manifesta desadequação das instalações ocupadas, o museu já havia sido de novo transferido, agora para o piso térreo do antigo Convento da Graça, mantendo a exposição permanente, inaugurada em 1992, e dispondo de um novo regulamento. Respeitava-se a ordenação cronológica e garantia-se uma orientação didáctica, a pensar nas escolas, que passaram a contar com um serviço de apoio específico.
Já neste século o museu sofreu novas alterações, resultantes de mudanças de uso do edifício do antigo convento, cujo piso superior foi libertado pelo organismo de planeamento técnico autárquico – o Gabinete de Apoio Técnico – e passou a ser utilizado como espaço de serviços adstritos ao museu. Alterou-se, também, a orientação expositiva. O grande núcleo arqueológico resultante do labor de Leonel Trindade e de muitos outros investigadores, que projectara o museu como referência nessa área, foi desmontado, dando lugar a exposições temporárias de diversa índole. É certo que algumas retomaram o tema da arqueologia, com base nas numerosas campanhas de escavações no Castro do Zambujal – e fizeram-no com grande qualidade – mas a exposição permanente acabou, com prejuízo, em nosso entender, do alcance pedagógico-didáctico, que tão útil era para as escolas.









[1] Cf. Venerando de Matos -  Vedrografias,  blogue sobre história local de Torres Vedras:
[2] Rafael Salinas Calado - Torres Vedras e o seu Museu Municipal. In: Boletim da Junta de Província da Estremadura, II Série, n.º 16, Lisboa, 1947, p. 366.
[3] Trata-se da Lei n.º 47/2004, de 19 de Agosto.
[4] Cf. Maria Isabel Soares de Luna – Públicos do museu municipal Leonel Trindade: tratamento e análise de fontes administrativas. In: Repositório do ISCTE-IUL, DA-RL – Relatórios. Lisboa: Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, 2009, p. 3. E também: Incorporação e desincorporação em museus: história, realidade e perspectivas futuras [Em linha]. Lisboa: ISCTE-IUL, 2011. Dissertação de mestrado. [Consult. 20 Julho 2015] Disponível em http://hdl.handle.net/10071/3129.








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ALGUNS ASPECTOS DA Toponímia de Torres vEDRAS
  
(1ª Parte)

joÃo Flores cunha
22  Abril 2016  
         

Ao longo do tempo foram várias as mudanças de nomenclatura que sofreram as ruas e praças de Torres Vedras. Chegou a acontecer o mesmo nome ser dado a diferentes espaços em épocas distintas, como, por exemplo, a rua dos Mercadores que em finais da Idade Média se localizava, segundo Manuel Clemente, entre a Várzea e o antigo Convento da Graça, ou seja, na parte sul da actual rua dos Cavaleiros da Espora Dourada e que, no livro do Tombo dos Bens da Santa Casa da Misericórdia de 1722, se situava entre o Terreirinho de Ximendes e a rua dos Balcões – hoje, rua do Terreirinho. Também o nome ‘rua dos Polomes’, agora fixada entre o largo dos Polomes (conhecido por largo dos Ferradores) e a rotunda de Villenave d´Ornon, era outrora o nome da actual rua Guilherme Gomes Fernandes.
          As ruas tinham no passado um rol indeterminado de nomes que ajudavam a localizá-las, quer pela actividade económica que lá se exercia: rua dos Mercadores, rua das Olarias; quer por um edifício existente na rua, ou para onde ela se dirigia: rua de Santiago, largo de S. Pedro, rua da Misericórdia, rua da Costa do Castelo; quer pelo nome de individuo ou família popular ou importante: travessa do Luís Cardoso, rua dos Trigueiros; quer pelo local a que davam acesso: rua que vai do Terreirinho para trás do açougue; quer por alguma outra particularidade que ajudava a distingui-la: rua das Flores, rua da Mancebia. Só muito depois é que se passou a nomear as ruas e praças com carácter de homenagem a pessoas, datas e factos que os diversos responsáveis municipais entendem merecer.
          Assim, partindo de algumas ruas, iremos referir a toponímia e apontar certas curiosidades relativamente aos seus actuais patronos. Comecemos pelo largo Frei Eugénio Trigueiros e pelas ruas que para lá vão confluir.
          Este pequeno largo, de formato triangular, é popularmente conhecido por largo do Grilo e, ao contrário do que se poderia pensar, a sua existência é relativamente recente. Das notas de José Eduardo César e Gama Leal ao livro de Madeira Torres, como também da consulta de “Torres Vedras Antiga e Moderna” de Júlio Vieira, é possível concluir que só depois de ser demolido, em 1886, o prédio da família Tavares - que fazia esquina entre a rua dos Canos e a rua dos Polomes, e fechava a rua da Praça - é que o largo foi aberto.
           D. Frei Eugénio Trigueiros nasceu em Torres Vedras na Paróquia de Santa Maria do Castelo onde foi baptizado a 16 de Janeiro de 1684. Professou no convento dos agostinhos da Graça de Lisboa em 1702, foi lente no convento de Évora tendo depois embarcado em 1720 para servir na India. Foi sagrado Bispo de Macau em 1727 e em 1733 nomeado para suceder ao Arcebispo de Goa. Faleceu a 19 de Abril de 1740 na viagem de Macau para Goa. Era filho de João de Almeida Teles, meirinho da correição de Torres Vedras e de Doroteia Trigueiros de Tavira filha de Mateus de Gouveia dos Reis, também ele meirinho da correição em Alenquer e Torres Vedras e da sua primeira mulher Mécia Trigueiros de Tavira.
 Na próxima crónica de 13 de Maio vamos dar continuidade ao tema da toponímia torriense, localizando as ruas Roque Ferreira Lobo e Capitão Luiz Boto Pimentel e historiando um pouco da vida dos seus respectivos patronos.

Texto escrito segundo o antigo acordo ortográfico

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alguns aspectos da Toponímia de Torres vedras
  
(2ª Parte)

joÃo Flores cunha
 13 Maio 2016

Tomando como referência o Largo do Grilo, vamos partir de sul para norte e seguir os números de polícia. Assim, temos a rua Roque Ferreira Lobo. Era a antiga rua da Praça. Começa no largo do Município, que noutros tempos era também a praça dos víveres. Na rua da Praça ficava o açougue do povo, onde se abatia o gado e se vendia carne e peixe.
No princípio do século XX, estando já demolido o prédio das Tavares, (prédio a que fizemos referência na crónica de 22 de Abril) foi dado o nome de Guilherme Gomes Fernandes à rua que, principiando na praça do Município, atravessava o largo do Grilo e terminava no largo dos Polomes. Só em 1947 é que foi dado o nome de Roque Ferreira Lobo ao troço da rua Guilherme Gomes Fernandes compreendido entre a praça do Município e o largo Frei Eugénio Trigueiros.
          Roque Ferreira Lobo nasceu em Torres Vedras, paróquia de S. Pedro, a 26 de Maio de 1743. Filho de José Ferreira, natural de Pernes e de Simoa Maria Xavier, neto paterno de António Ferreira e de Maria Mendes, e materno de João Baptista Lobo e Maria Josefa. As suas origens deveriam ser modestas, pois a mãe foi uma das dotadas, pelo casamento, da Santa Casa da Misericórdia de Torres Vedras. No entanto, considerando os cargos públicos que veio a ocupar, assim com os livros que publicou teve, por certo, uma instrução de bom nível. Foi um dos administradores do Correio do Reino e secretário do Senado da Câmara de Lisboa, deixando-nos algumas obras de cariz literário, como “ Lições de um Pai a uma Filha”, de cariz histórico, como “História da Feliz Aclamação do Senhor Rei D. João o Quarto” e traduções como “ Noites Campestres”. Foi contemporâneo, vizinho e amigo de Bocage, o que o não livrou do desgosto de ver a sua filha em 1802 denunciar o poeta ao Santo Ofício. Roque Ferreira Lobo faleceu em Lisboa em 1828.
          Volteando o Largo do Grilo no sentido dos ponteiros do relógio vamos encontrar a rua De Trás do Açougue. Vinda também do lado sul, esta rua começa no entroncamento com a travessa Luís Cardoso e as ruas dos Celeiros de Santa Maria e Açougue dos Clérigos.
          Depois, descendo do poente, temos a rua Capitão Luiz Boto Pimentel. É a antiga rua do Castelo ou da Costa do Castelo. Teve também esta rua, que começa no largo Morais Sarmento, até 1947, o nome de rua Mouzinho de Albuquerque, de que era uma parte.
          Luís Boto Pimentel Côrte-Real ou Luís Boto Pimentel Fernandes Côrte-Real de Menezes nasceu em Torres Vedras na paróquia de S. Pedro onde foi baptizado a 6 de Setembro de 1684, era filho do Capitão de Ordenanças João Boto Pimentel Côrte-Real e da sua segunda mulher Micaela Moreira de Mendonça. Foi Capitão de Ordenanças, exerceu na Câmara Municipal os cargos de Vereador, Procurador e Eleitor e na Santa Casa da Misericórdia os de Provedor, Escrivão e Definidor. É dele um manuscrito de 1729, que se pensa ser a primeira monografia sobre Torres Vedras: “Livro de Notícias Várias, Composto por um Vário Autor”. Faleceu em Torres Vedras em 26 de Maio de 1741.
Na próxima crónica vamos continuar a falar de toponímia localizando, desta feita, as ruas Guilherme Gomes Fernandes e Mouzinho de Albuquerque, e historiando alguns aspectos da vida dos seus patronos.


Texto escrito segundo o antigo acordo ortográfico



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ALGUNS ASPECTOS DA Toponímia de Torres VEDRAS

(3ª Parte)

joÃo Flores cunha
3 Junho 2016 


Na sequência da crónica de 13 de Maio, tomemos como referência ainda o Largo do Grilo. Assim, caminhando para norte encontramos no fim do largo, à esquerda, a travessa do Quebra-Costas. É um nome antigo que se encontra em diversas localidades de Portugal. As ruas, becos e travessas com este nome têm características em comum, pois são estreitas e de declive acentuado. Em frente temos a rua Guilherme Gomes Fernandes que segue até ao largo da antiga caldeira do Alfazema. Foi no século XVI conhecida por rua de Antão de Oliveira. É provável que este Antão de Oliveira ali morasse e fosse o vedor das obras do muro de Torres Vedras, que se realizaram no primeiro quartel do século XVI e para as quais ele recebeu em 1519 cento e vinte cinco mil réis e em 1520 duzentos mil réis. Era a antiga rua dos Polomes, ou Pelomes, ou Pelames, como vem grafada em diferentes textos. Seria a zona da curtimenta das peles, aproveitando a proximidade do Sizandro e de outras pequenas linhas de água, hoje inexistentes, mas que outrora, vindas do sul e nascente e correndo para o rio, por ali perto passariam.
          Guilherme Gomes Fernandes nasceu na Baia em 1850. Foi muito jovem para o Porto e, sendo senhor de grande fortuna funda, às suas custas, um Corpo de Bombeiros Voluntários. Foi instrutor e inspector de bombeiros. Participou com forças sob o seu comando em diversos concursos internacionais tendo, em 1900, em Paris, obtido o título de campeão do mundo. É considerado o patrono dos Bombeiros Portugueses. Faleceu em Lisboa em 1902 após uma intervenção cirúrgica.
          Voltando atrás, seguindo agora de norte para sul, fazendo esquina com a rua Roque Ferreira Lobo, completando a volta ao largo, temos, à esquerda, a rua Mouzinho de Albuquerque, uma fracção da antiga rua dos Canos. Principiava a antiga rua dos Canos no largo do chafariz dos Canos, agora denominado Infante D. Henrique. Seguindo do chafariz para poente, temos logo à esquerda a travessa de S. Pedro que ainda hoje mantém esse nome. Continuando em frente encontramos à direita um caminho estreito - era azinhaga de detrás dos Polomes e que, em tempos ainda mais remotos, como podemos ver no citado tombo da Santa Casa da Misericórdia era conhecida por rua da Mancebia; tem hoje o nome de travessa Madeira Torres. Terminava a rua dos Canos onde começava a rua do Castelo. Apenas com o melhoramento da estrada real nº 61, já na segunda metade do século XIX, é que foi aberta a rua que ficou conhecida como rua Nova de S. Pedro e que é hoje o troço final da rua 9 de Abril e a rua Dias Neiva.
          Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque nasceu em Lisboa em 1792 e foi durante o segundo quartel do século XIX figura de topo da cultura, ciência e política de Portugal. Militar de carreira, liberal e setembrista, chegou a ministro do Reino, cargo equivalente hoje ao de primeiro-ministro. Faleceu em Torres Vedras a 27 de Dezembro de 1846 devido aos ferimentos sofridos a 22, durante a sangrenta batalha ocorrida nesta vila entre as forças governamentais, comandadas pelo Duque de Saldanha e as forças patuleia/setembristas da junta do Porto, comandadas pelo Conde do Bonfim. Está sepultado na Igreja de S. Pedro.


Texto escrito segundo o antigo acordo ortográfico





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